REPORTAGEM em PDF para os assinantes
|
A Oficina de Informações oferece um novo serviço aos seus assinantes: o acesso às páginas da revista REPORTAGEM em formato PDF, antes mesmo de a edição impressa sair da gráfica. Se você já é assinante, basta registrar aqui seus dados atualizados, bem como um nome de identificação e uma senha. Em breve, as edições anteriores da revista também estarão à disposição em formato PDF, inclusive para interessados em números avulsos. |
|
|
|
Arquivo - Sexta-feira, 26 de maio de 2006 |
EDUCAÇÃO E SISTEMA
O tema de capa do Retrato do Brasil número 9 |
Em meados do século 20, quando o mundo estava bastante dividido em relação às ideologias do desenvolvimento, muitos acreditavam que a maioria dos países eram pobres porque o processo que deu origem ao sistema de nações vigente padecia de um mal congênito. Em função da própria natureza do desenvolvimento capitalista, que é desigual e concentrador de riqueza, se formara no centro do sistema um clube seleto de países onde o capitalismo se desenvolvera amplamente. Mas, justamente para acelerar o seu próprio desenvolvimento, esse centro agregara aos seus domínios um conjunto muito maior de países, que submetera a um estatuto de exploração colonial. Nessa periferia, então, não só existiria o processo considerado normal de exploração dos trabalhadores do sistema capitalista, mas uma opressão adicional, nacional, decorrente da condição de ela ser formada por colônias ou semicolônias fornecedoras de produtos agrícolas e matérias primas para as metrópoles centrais. E essa exploração nacional persistira mesmo depois de o sistema colonial antigo ter se desmanchado, com a independência política das colônias. Esses processos de independência teriam sido geralmente formais e não quebraram os laços de controle, basicamente econômicos e principalmente financeiros, estabelecidos pela meia dúzia de centros que dominavam o mundo no velho sistema colonialista e que continuaram dominando sob um novo sistema imperial. Para fugir desse destino de pobreza, os países periféricos não teriam então outra saída: era preciso abandonar a trilha do desenvolvimento capitalista tradicional -- o que muitos países pobres tentaram através do chamado movimento dos Não Alinhados ou do Terceiro Mundo e outros buscaram através do modelo de desenvolvimento socialista. Uma das conseqüências do debate sobre os caminhos do desenvolvimento era a de que não existiriam sistemas educacionais neutros, construídos para qualquer País e qualquer rumo que se tomasse. Tome-se o caso do Brasil, por exemplo. Aqui, no começo dos anos 1960 era famoso no campo do ensino o chamado método Paulo Freire, do educador progressista que achava que os muitos analfabetos brasileiros tinham de ser ensinados a partir de palavras do seu cotidiano de vida e de suas próprias lutas para vencer o subdesenvolvimento. Com a vitória da direita, no golpe militar que derrubou o então presidente Jango Goulart, em 1964, Freire foi cassado e exilado. E o sistema de ensino tomou um rumo conservador, oposto ao que ele sugeria: foi feito um acordo entre o Ministério da Educação brasileiro e a USAID, a agência americana para o desenvolvimento -- acordo que, aliás, foi amplamente combatido pelo movimento estudantil brasileiro da época. Os anos 1990 pareceram encerrar esse tipo de debate. Com a derrocada dos governos socialistas na URSS e no Leste Europeu, com a derrota de várias experiências do movimento dos Não Alinhados, como as dos governos nacionalistas árabes no Oriente Médio, pareceu ter se tornado inútil, não só debater rumos alternativos para o desenvolvimento como igualmente inútil discutir sistemas educacionais diferentes que corresponderiam a esses diversos rumos. Haveria apenas um caminho para o desenvolvimento: o do capitalismo liberal. E um só rumo para a educação: em última instância, conduzi-la na esfera do mercado, para fazer com que ela servisse para o sistema buscar excelência, eficiência, gestão por objetivos, clientes e usuários, empreendedorismo, produtividade, profissionalização por competências -- as palavras do léxico empresarial que passaram a ser onipresentes no cotidiano. O tema principal da edição número 9 do Retrato do Brasil, no entanto, retoma um debate que efetivamente não morreu. A despeito de todo o avanço expresso nos números do sistema educacional brasileiro, o País está estagnado há praticamente 20 anos. E igualmente os que recebem uma educação formal mais extensa também não tiveram maiores ganhos. As pessoas conferem à universidade um papel que ela não tem. Ela não é um passaporte para o emprego. O emprego é determinado pela situação econômica do País, dizia em 2004, Márcio Pochmann, ex-secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da prefeitura de São Paulo e pesquisador do mercado de trabalho. Pochmann apresentava dados que contestam a idéia de que mais instrução é igual a mais emprego. A chance de quem tinha primeiro grau incompleto conseguir um emprego em São Paulo era maior do que a de um candidato de nível universitário. O desemprego era três vezes maior entre quem tinha média de catorze anos de estudo do que entre aqueles que haviam estudado menos de três anos. Segundo Pochmann, a constatação não pode ser vista como um desestímulo aos estudos, até porque, havendo crescimento econômico, as oportunidades poderiam ser melhores para quem tivesse melhor escolarização. Hermano Tavares, ex-reitor da Unicamp, parecia ter posição semelhante. Segundo ele, a educação não resolveria o problema do emprego e do desenvolvimento se o País não tivesse, por exemplo, uma política industrial. A educação seria uma condição necessária, mas insuficiente. Ela tem que vir acoplada a alguns elementos, a uma política industrial bem montada, que tem que ser conquistada no tabuleiro internacional a cotoveladas,dizia ele.
|
|
Leia também:
|
Os textos e as listas de fatos dos dias anteriores na edição d'A Semana
|
|