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Arquivo - Quinta-feira, 06 de outubro de 2005 |
A valorização do real frente ao dólar e o papel da especulação e dos juros nesse processo
O CUSTO DOS JUROS ALTOS |
O real já se valorizou em relação ao dólar neste ano em 15,9%. Uma das razões da valorização é a situação mais ampla do mercado financeiro global: os juros nos EUA continuam relativamente baixos e os capitais tem buscado países emergentes como o Brasil, que pagam mais e parecem relativamente seguros; mesmo a Argentina, país que ainda se recupera de grave crise econômica, tem atraído capitais o chamado risco-país argentino é muito próximo do brasileiro.
Também tem papel destacado nesse processo a especulação financeira: os investidores estrangeiros têm apostado fortemente na baixa do dólar frente o real. Uma das evidências da especulação é o crescimento de um instrumento especial dos mercados financeiros os chamados Non Deliverable Forward (NDF) contratos de compra de reais no exterior associados à venda de dólares em uma data futura. Os bancos e corretoras lá de fora que vendem esses contratos a investidores fundos mútuos, fundos de pensão, seguradoras, fundos de hedge vêm buscar os reais no Brasil, na Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo, através de contratos de compra de reais associados à venda de dólar, casados com as operações lá fora. O negócio tem sido ótimo na medida em que o investidor de fora deixa de ter dinheiro aplicado em dólar às taxas de juros do mercado americano, por exemplo, baixas, e passa a ter dinheiro aplicado em reais, a taxas de juros altas; o risco do banco vendedor do contrato seria o real se desvalorizar e, no vencimento do contrato feito na BM&F, ele ter menos dólar aqui para remeter aos aplicadores lá fora. Como há uma grande procura por reais, no entanto, o real tem se valorizado; e assim ganham os investidores e os intermediários.
Estimativas do mercado, apresentadas em matéria do jornalista Fabrício Vieira publicada pela Folha de S. Paulo nesta semana, apontam que os NDFs de real já superam os US$ 50 bilhões, cerca de 45% mais que o montante negociado há 18 meses na BM&F. E o crescimento desses negócios continua: a média diária de negociações com dólar futuro passou de US$ 4,842 bilhões em 2004, para US$ 6,482 neste ano; e, na última semana de setembro, a média bateu em US$ 9,993 bilhões ao dia.
Os contratos futuros poderiam ser operações de hedge, de exportadores que tentam se proteger das oscilações da moeda brasileira: por exemplo, o exportador faz um acordo para a venda de seus produtos com o prazo de 60 dias para a entrega e preço em dólar da mesma data; e com a compra de um contrato de dólar futuro já tem o preço final que vai obter em reais prefixado. Uma prova de que os contratos futuros de dólar na BM&F são em grande parte dos especuladores, no entanto, é o número de contratos em aberto. Citando operadores do mercado, Fabrício Vieira diz que o crescimento do número desses contratos em aberto de 462,4 mil contratos em 15 de janeiro, para 754,9 mil em 15 de maio e 916,1 mil em 15 de setembro significa compra e venda de dólar no mesmo dia. Isso quer dizer especulação: se fosse um contrato de hedge, no qual o comprador do dólar tenta se proteger das oscilações da moeda, ele carregaria o contrato até o fim.
A especulação com os NDFs, se deve, obviamente, aos altos índices de juros praticados no Brasil. Atualmente, a taxa real de juros no país é de 14% ao ano, a maior do mundo para comparação, a China, segunda colocada, que elevou seus juros expressivamente nos últimos tempos para tentar conter o crescimento da economia do país, considerado excessivo, tem juros reais de 6% ao ano.
O peso dos juros brasileiros cai, obviamente, em grande parte sobre as contas públicas, em função do enorme endividamento interno do País, que se aproxima de R$ 1,0 trilhão. Um artigo do jornalista Ribamar Oliveira, publicado no Estado de S. Paulo nesta semana, contendo dados do último relatório de inflação do Banco Central, mostra que apenas no período de janeiro a julho deste ano o setor público (União, Estados e municípios) gastou R$ 20,1 bilhões a mais no pagamento de juros da dívida do que no mesmo período do ano passado. Esse valor é praticamente igual aos investimentos realizados durante todo o governo Lula. Quando comparado com os gastos sociais, esses juros representam mais de três vezes o montante que o governo pretende gastar com o Programa Bolsa Família em 2005, R$ 6,5 bilhões. Na educação, a União espera investir R$ 7,16 bilhões até o final do ano, um terço do gasto adicional com juros.
O governo, entretanto, foge da idéia de calcular o preço pago pelo País com a política de juros altos, diz Ribamar. Prova disso foi o veto do presidente ao parágrafo 115 da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o orçamento do próximo ano, que obrigava o governo a avaliar e divulgar os custos da União com a execução da política de metas inflacionárias, de juros e da intervenção no câmbio.
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