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Arquivo - Quinta-feira, 28 de abril de 2005 |
A crise diplomática entre Japão e China
RAÍZES ANTIGAS E MOTIVOS ATUAIS |
As recentes manifestações de massa em Pequim, Xangai e outras 8 cidades chinesas, em protesto contra as atrocidades cometidas pelos soldados japoneses antes e durante a 2ª Guerra Mundial, na China e em outros países, podem ter ameaçado fugir ao controle das autoridades chinesas. É o que indica o Diário do Povo de Pequim, que, em meio às manifestações, publicou artigo segundo o qual "salvaguardar a estabilidade social é responsabilidade de cada cidadão". Outros indícios claros foram a advertência, no último dia 20, do Ministério do Exterior chinês, contra "as manifestações ilegais"e, no dia 26, as prisões de 42 manifestantes, por atos de violência e depredação nas manifestações realizadas no dia 16. A China se ofereceu para pagar os danos sofridos por representações diplomáticas e empresas japonesas durante os protestos.
Apesar da preocupação com as manifestações, entretanto, os chineses não parecem dispostos a esquecer os episódios do passado. No próprio dia 20, por exemplo, o Diário do Povo publicou um artigo de crítica ao Japão, baseado num texto do escritor holandês Bluemask. Diz o jornal: "O escritor chama a atenção para o fato de que a chave para a visão alemã da 2ª Guerra Mundial foi o momento em que o campo de concentração de Auschwitz foi descoberto, e não a guerra em Stalingrado ou a guerra em Berlim. A chave para a visão japonesa da 2ª Guerra Mundial é a bomba atômica em Hiroxima, ao invés da guerra em Pearl Harbor ou da guerra em Midway".
E continua o artigo: "É certo que a guerra que aconteceu há 60 anos trouxe graves desastres para o povo japonês. Mas, para os povos asiáticos que sofreram a agressão japonesa, isso é só metade da história, já que o Japão é o arquicriminoso de guerra." No total, foram mortos 20 milhões de chineses no último conflito mundial, além de terem sido realizadas "experiências médicas", por pesquisadores japoneses, em prisioneiros chineses, seguindo o exemplo do médico nazista Joseph Mengele.
O artigo afirma que, enquanto a Alemanha conseguiu respeitabilidade internacional por ter reconhecido e procurado reparar seus crimes de guerra, com o Japão não aconteceu isso: "Parte dos japoneses ainda homenageia os criminosos de guerra. Eles estão constantemente revisando e distorcendo a história ao modificar os livros didáticos".
As atrocidades cometidas pelas tropas japonesas em outros países asiáticos são desconhecidas das novas gerações do Japão e também no Ocidente, mas são bem lembradas pelos países vitimados, como a China e a Coréia do Sul, que na última semana de abril também denunciou os livros didáticos japoneses por distorcerem a história.
Pierre Picquard, professor de Geopolítica na Universidade de Paris, lembra que em Nanquim, China, em 1937, as tropas japonesas mataram de 300 mil a 400 mil pessoas e estupraram 20 mil mulheres, de 11 a 70 anos: "Dezenas de milhares de chineses foram enterrados vivos, só com a cabeça de fora. Em algumas semanas de massacres, nem as crianças foram poupadas. Milhares de chineses tiveram as cabeças cortadas diante de seus pais." O episódio é laconicamente chamado de "incidente em Nanquim" por um livro didático japonês recém-lançado, o que serviu de estopim para as manifestações.
No Japão, embora vários governantes tenham pedido perdão aos países vizinhos, os responsáveis pelos massacres são até hoje homenageados anualmente no santuário de Yasukuni, onde estão enterrados, como heróis de guerra. Os japoneses se recusam a indenizar suas vítimas de guerra como os alemães; em contrapartida, financiaram com 3 trilhões de ienes o boom industrial da China. E, no Japão, as exportações à China empregam metade dos trabalhadores. Portanto, a par das emoções que mantêm vivas as feridas de guerra, há interesses dos dois governos em manter a situação sob controle.
Mas, esse interesse mútuo pode ser insuficiente para que, no futuro, se matenham as boas relações entre os dois lados. Entre os países existe uma disputa pela liderança na Ásia, em especial no Leste asiático, onde durante décadas o Japão foi o motor do desenvolvimento econômico. Agora, exatamente em abril, a China acaba de superar o Japão em exportações.
Do ponto de vista político, há ainda, por parte da China, o receio de que o Japão vá abolir as cláusulas antimilitaristas de sua Constituição, iniciando uma corrida armamentista. Também acirram o conflito a oposição da China à pretensão do Japão de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e o apoio japonês às correntes separatistas de Taiwan.
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