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    Arquivo - Sexta-feira, 15 de abril de 2005
A morte de João Paulo 2º

UM VITORIOSO COMBATENTE ANTICOMUNISTA
A atuação do papa João Paulo 2º contra os regimes da Polônia, sua terra natal, dos demais países da Europa Oriental e da ex-União Soviética, identificados como comunistas, não se limitou a pregações contra o ateísmo, a queixas contra as restrições à construção de novas igrejas e a outros direitos religiosos. Nem aos discursos pronunciados em suas viagens a esses países, em que dizia diante de milhões de fiéis: "não tenham medo".

De acordo com o livro Sua Santidade: João Paulo 2º e a história escondida de nosso tempo, dos jornalistas Marco Politi e Carl Bernstein, houve uma aliança secreta entre a Santa Sé e a agência de espionagem americana CIA para combater movimentos pró-marxistas. As informações colhidas pelas redes de sacerdotes nos países comunistas eram passadas à CIA. Em compensação, de 1981 a 1989, quando caiu o Muro de Berlim, o papa passou a receber informações recolhidas pela CIA nos países comunistas com satélites militares e escuta eletrônica.

Nesses países, principalmente na Polônia, os templos católicos serviam de ponto de encontro de dissidentes, de centros de distribuição de jornais e panfletos anticomunistas e de informações sobre eventos culturais e outros não aprovados pelo regime. É interessante lembrar que, depois do fim do comunismo, a freqüência às igrejas na Europa Oriental diminuiu em alto grau, para decepção do clero.

Segundo os jornalistas, João Paulo 2º se reuniu secretamente, durante a Guerra Fria, 15 vezes com William Casey, então diretor da CIA, e com o general Vernon Walters, famoso por sua atuação em golpes militares na América Latina, inclusive no Brasil. A troca de informações entre o papado e a CIA envolvia também a América Latina, a respeito dos movimentos católicos de esquerda e da Teologia da Libertação, e outras regiões do mundo.

De acordo com Politi e Bernstein, João Paulo 2º agiu em aliança com o presidente americano Ronald Reagan, primeiro na Polônia, onde ajudou o sindicato Solidariedade, e depois nos demais países. A aliança chegou ao ponto de Reagan cortar programas de ajuda a planejamento familiar em outros países, para não contrariar as doutrinas sexuais do papa, e de este, em troca, intervir junto ao episcopado americano para que deixassem de lado suas críticas ao armamentismo de Reagan. Só depois da era Reagan, em 1991, quando o comunismo já estava derrotado, surgiu uma divergência de alguma gravidade entre os dois lados, em torno da Guerra do Golfo.

Não foi à toa, portanto, que João Paulo recebeu, recentemente, elogios da secretária de Estado dos EUA, Condoleeza Rice. "O papa é um grande símbolo moral, assim como religioso. Ao observamos o que ocorreu em 1989, 1990 e 1991, não se pode deixar de reconhecer a tremenda contribuição de João Paulo 2º para esses acontecimentos e, por conseqüência, para a liberdade", disse ela.

O anticomunismo de João Paulo 2º foi acompanhado, no entanto, de críticas a aspectos secundários do capitalismo. Ele queria um maior combate à miséria, à pobreza e ao desemprego, e também criticava a excessiva concentração de renda e do consumo de luxo. Criticava também a moral hedonista e a concentração de terras. Ao contrário de sua cruzada contra o comunismo, porém, suas idéias reformistas a respeito do capitalismo não deram em nada.


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