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    Arquivo - Quinta-feira, 17 de março de 2005
A pesquisa científica sobre os efeitos do Ecstasy

AO INVÉS DA EUFORIA, ECSTASY PODE LEVAR À DEPRESSÃO
O Ecstasy, comprimido ilegal que é usado como euforizante e excitante sexual em festas e baladas, pode causar o efeito contrário: depressão a longo prazo. Isso conforme a herança genética da pessoa, segundo estudo da Universidade de Cambridge, Inglaterra, chefiado pelo cientista Jonathan Roiser e divulgado pela revista American Journal of Psychiatry recentemente.

Roiser é especialista em farmacogenômica, o estudo de como pessoas com heranças genéticas diferentes reagem de formas diferente à mesma substância. Essa ciência tem estudado mais drogas legais, como os remédios, mas Roiser resolveu estudar drogas ilegais e começou pelo Ecstasy.

O barato do Ecstasy surge a partir de ele afetar a concentração no cérebro de uma substância chamada serotonina, um neurotransmissor (mensageiro químico que transporta sinais de um neurônio para outro) que afeta o humor e a emoção. Depois que fez o seu efeito, a substância é sugada de volta para a célula que a produziu, por uma proteína chamada transportadora de serotonina. Isso permite modular o seu efeito e também armazená-la.

Mas existem duas variedades de transportadoras de serotonina, dependendo da qual das duas versões do gene que a codifica a pessoa herdou -- a versão "curta" e a versão "longa". Cada pessoa tem duas transportadoras de serotonina, uma herdada da mãe e outra do pai. Desse ponto-de-vista, há três tipos de pessoas: as que têm duas transportadoras de serotonina longas, as que têm duas curtas e as que têm uma longa e uma curta.

Pesquisas anteriores indicaram que mesmo a pessoa que tem só uma transportadora curta, mas também a que tem as duas curtas, são mais propensas a sofrerem depressão depois de um evento traumático, como a perda de emprego, e não respondem bem aos antidepressivos da classe do Prozac, que inibem a recuperação da serotonina pela célula que a criou.

Reiser imaginou se os usuários de Ecstasy que herdaram a forma curta também estavam em risco maior de desenvolver depressão. Escolheu 66 usuários pesados – que tinham tomado Ecstasy pelo menos 30 vezes -- e, após abstinência de três semanas, passou a medir a sua química cerebral, comparados com 28 pessoas que nunca haviam consumido drogas ilegais e 30 que fumavam maconha habitualmente.

A equipe usou o Inventário Beck de Depressão, um questionário padrão sobre pensamentos depressivos, e um teste de computador, o Affective Go/No Go, em que pessoas saudáveis respondem mais depressa a palavras indicadoras de felicidade, enquanto os depressivos respondem mais depressa a palavras indicadoras de tristeza. Os pesquisadores também fizeram exames de sangue para ver que tipos de genes de transportadoras de serotonina seus voluntários haviam herdado.

O questionário indicou que pessoas que empregam Ecstasy regularmente, e que têm duas versões curtas do gene, são mais propensas a sofrerem de depressão média ou profunda do que os outros usuários da droga. E um ponto importante: os que tinham duas versões curtas do gene, mas não tomavam nenhuma droga ou só fumavam maconha, não apresentaram essa tendência maior à depressão.

No teste de computador, mesmo os usuários de Ecstasy que tinham uma só versão curta revelaram maior tendência à depressão; enquanto os que não usam droga nenhuma e os que fumam maconha, tendo uma só versão curta, não apresentaram essa propensão à depressão. E outro ponto importante: os que tinham duas versões longas do gene da transportadora de serotonina não demonstraram tendência à depressão, fossem usuários de Ecstasy, de maconha ou de droga nenhuma.

Duas conclusões: os antidepressivos do tipo Prozac não devem funcionar em depressões induzidas pelo Ecstasy. E os usuários de Ecstasy deveriam fazer um teste para saber se correm risco de depressão ou não.


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