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Arquivo - Sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005 |
O sistema de Seguridade Social nos EUA A resistência a Bush
APOSENTADOS CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA PREVIDÊNCIA |
Se o presidente George Bush já enfrenta resistências, no Congresso, a seu projeto de privatização parcial da Previdência, o maior obstáculo que ele vai enfrentar nesse campo é o maior grupo de lobby do país, a Associação Americana de Aposentados, que conta com 35 milhões de membros, de longe a maior entidade associativa do país, vindo em segundo lugar a central sindical AFL-CIO, com 13 milhões de filiados. Mesmo antes da posse de Bush, a Associação já tinha lançado uma campanha de US$ 5 milhões de propaganda contra a anunciada reforma. A entidade dispõe de enorme força no Congresso americano, embora se recuse a contribuir para a campanha eleitoral de qualquer candidato. Acontece que, nos EUA, os idosos votam em proporção muito maior do que os mais jovens, que preferem abster-se em massa, e que esses eleitores idosos seguem de perto as orientações da Associação. Além disso a Associação consegue, para seus sócios, descontos em seguros, em motéis e em cruzeiros marítimos, além de nas contas da AOL. Usa seus rendimentos nas vendas de seguros de saúde e de vida no auxílio a idosos atolados em impostos ou endividados com empréstimos bancários. Teve faturamento de US$ 700 milhões em 2003; tem escritórios luxuosos e executivos bem pagos, tudo segundo o semanário econômico inglês The Economist.
O número de fevereiro do boletim da Associação traz um artigo intitulado "Por que a privatização fracassou na Grã-Bretanha". Além disso, a Associação divulgou duas pesquisas de opinião pública que provariam que "quanto mais os americanos ficam sabendo sobre a distribuição de impostos da Seguridade Social para contas privadas de investimentos, menos eles gostam da idéia". Seu alvo especial são os congressistas republicanos.
Bush tem outros inimigos. O professor de Psicologia Barry Schwartz, da Faculdade Swarthmor, do Estado da Pennsilvânia, autor do livro "O Paradoxo da Escolha: Por Que Mais é Menos", escreveu no jornal The New York Times, que são falaciosos os argumentos de Bush de que a privatização vai aumentar, a longo prazo, a quantidade de dinheiro disponível para os aposentados. Schwartz argumenta que todos os especialistas concordam em que o Fundo de Investimento da Seguridade Social vai acabar ficando sem dinheiro e, para resolver isso, seria necessário, por exemplo, diminuir os benefícios e aumentar os impostos na fonte.
Segundo Schwartz, é enganosa também a argumentação de que os investimentos em capital dão historicamente um retorno de quase o dobro em relação às letras do Tesouro americano. Isso, diz ele, só é válido a longo prazo, podendo perfeitamente estar ocorrendo o contrário no momento em que a pessoa vá se aposentar. Sem contar que os custos administrativos do novo sistema serão de dez a trinta vezes mais elevados do que os custos da atual Previdência pública.
Também a liberdade de escolha assegurada pelo novo sistema, afirma Schwartz, é enganosa. Como psicólogo, ele fez pesquisas que mostram que "se as pessoas estão escolhendo geléia num supermercado, tópicos de trabalho na classe da faculdade, ou até mesmo parceiros numa noitada de 'casos rápidos', quanto mais opções elas tiverem, menor a probabilidade de fazer uma escolha". Por exemplo, "quando empregadores aumentam o número de fundos disponíveis a empregados para investimentos voluntários, a taxa de participação cai 2% para cada dez fundos oferecidos".
O argumento final de Bush: a Previdência social não é um sistema de pensões, é um sistema de segurança. A pessoa continua recebendo a pensão mesmo depois de ter recebido tudo que pagou em contribuições para a Previdência, e ainda transmite a pensão, após o seu falecimento, ao beneficiário indicado. Porém, com a privatização acaba tudo isso: a pessoa só recebe os dividendos do que aplicou, e mais nada.
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