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Arquivo - Quarta-feira, 02 de fevereiro de 2005 |
A evasão de divisas do Brasil As estatísticas globais sobre as contas externas dos países em desenvolvimento
NA CONTRA-MÃO DAS PROMESSAS |
A tese de um dos mais audaciosos operadores do Plano Real, o economista Gustavo Franco, era de que o mundo tinha entrado, então, no começo dos anos 90, numa fase nova, na qual a exploração dos países em desenvolvimento pelo capital financeiro internacional era coisa do passado e o mais sensato era, assim, no lugar de uma postura de proteção dos mercados financeiros locais, promover a abertura ampla desses países aos fluxos de capitais e tecnologias dos países ricos, que viriam promover o desenvolvimento e a modernização.
Não foi o que aconteceu, mostra no seu artigo na Folha de S. Paulo neste último domingo o ex-ministro da Fazenda brasileiro Rubens Ricúpero. Ricúpero trabalha com as estatísticas do balanço de pagamentos de vários países apresentados no documento do FMI de 2004 que desenha "A perspectiva econômica global". Elas mostram que, entre 1998 e 2004, as economias em desenvolvimento transferiram para os países desenvolvidos nada menos que US$ 1,234 trilhão; e que as transferências só tem aumentado nesses anos - elas foram de US$ 35 bilhões em1998 para estimados US$ 312,7 bilhões, quase nove vezes mais, em 2004.
Na América Latina, a situação, em sua tendência mais geral, é a mesma: um saldo positivo, de US$ 46,5 bilhões, em 1998, diminui rapidamente até US$ 5,2 bilhões em 2001 e desde então se torna negativo - a região transferiu para o exterior em 2004 cerca de US$ 84 bilhões, 4,3% do seu Produto Interno Bruto, mais que o dobro de 2003, quando transferiu US$ 34,4 bilhões, ou 2% do PIB. Uma análise detalhada dos resultados da América Latina mostra o mecanismo mais amplo que permitiu essas transferências e ajuda a entender a encalacrada atual na qual está metida a economia brasileira: elas só se tornaram possíveis devido aos grandes saldos na balança comercial que os principais países da região passaram a ter depois das crises das políticas de estabilização ancoradas no dólar e das grandes desvalorizações que eles tiveram de promover em suas moedas em relação à divisa americana. "É um aspecto particularmente perverso", diz Ricúpero: é como se o mundo rico tirasse subrepticiamente com uma das mãos o que lhes havia dado com a outra, diz ele. Para completar a análise do ex-ministro: no caso do Brasil, a política de grandes incentivos à ampliação do saldo de nossa balança comercial, por via do setor do agrobusiness, é a política necessária para o país pagar ao capital financeiro internacional o preço da dependência. Gustavo Franco contou a mais esperta das mentiras, a verdade parcial que esconde o significado do conjunto: as políticas de abertura ao capital financeiro promovidas a partir do início dos anos 90 de fato atraíram capitais para o país até quase o fim da década. Ele tentou esconder o que viria depois: a partir de 1999, com a brutal desvalorização do real, começou a política que iria gerar megasuperávits comerciais especialmente no setor do agronegócio; e, assim o Brasil iniciou a dura etapa de pagamento dos serviços prestados pelo capital financeiro.
Com exceção de uma ou outra empresa industrial, também ligada a exportação, que explorou um ou outro dos chamados nichos de mercado para os quais o país tinha vantagens comparativas, o processo apenas reformou o modelo agro-exportador de décadas passadas: as grandes fazendas e indústrias ligadas às monoculturas de exportação tornaram-se "o Brasil que deu certo". De fato, no nível mais amplo, esse processo não produziu nem a modernização nem o desenvolvimento.
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