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Arquivo - Quarta-feira, 02 de fevereiro de 2005 |
O esforço do novo governo palestino para retomar as negociações de paz com Israel
A FORÇA POLÍTICA DOS GRUPOS MILITANTES |
O assassinato nesta segunda-feira de Norhan Deeb, uma escolar palestina de 10 anos, expôs mais uma vez as dificuldades para a manutenção da trégua informal entre a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e Israel. Norhan foi alvejada na cabeça por um tiro quando se encontrava na escola administrada pelas Nações Unidas no campo de refugiados de Rafah, Faixa de Gaza, na fronteira com o Egito. O disparo foi atribuído por testemunhas a militares israelenses, que se encontravam a cerca de 600 metros do local. Johan Erikson, porta-voz da ONU, disse que não era possível identificar quem foi o autor do disparo, mas tudo indicava que foi feito por forças israelenses. O governo de Israel disse não ter conhecimento do episódio e que investigará o caso com o auxílio dos palestinos.
Horas após o incidente, a reação mais ou menos esperada: militantes do Hamas dispararam obuses contra assentamentos judaicos na Faixa de Gaza, atingindo uma casa na colônia de Neve Dekalim, sem no entanto matar ou ferir ninguém. Um porta-voz do Hamas disse que os grupos palestinos retomarão os ataques se Israel realizar outras ações como a que matou a menina.
Em aparente represália, o governo de Israel anunciou uma mudança num acerto feito anteriormente entre seu ministro da Defesa, Shaul Mofaz, e o negociador palestino Mohammed Dahlan: vai atrasar a retirada de seus militares que ocupam 5 cidades na Cisjordânia. Pelos termos acertados anteriormente, a retirada seria feita de uma vez só de todas as localidades. Após o incidente, os israelenses disseram que vão sair de um local de cada vez e que podem começar somente depois do encontro programado entre o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, e o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, marcado para o próximo dia 8.
De certa ,forma, a fragilidade do cessar-fogo é algo com que os grupos militantes palestinos já contam desde o início. De acordo com a revista britânica The Economist, para eles o que está em vigor não é uma hudna (cessar-fogo), mas somente uma tahde'a (calma). Um cessar-fogo, como diz Abu Ameer, dos Comitês de Resistência Popular (grupo islâmico ligado ao movimento Fatah) dependerá não de Abbas, com quem eles negociaram, mas de Israel. Antes que seu grupo aceite o cessar-fogo, diz ele, Israel precisa retirar suas tropas para as posições anteriores à Intifada, libertar prisioneiros palestinos, parar de assassinar líderes militantes e de demolir casas de palestinos. Essas são exigências de outros grupos, como o Hamas, o maior de orientação islâmica, e as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, secular e ligado ao Fatah.
Segundo a revista, frente à ANP esses grupos têm alguma vantagem quando se trata de armas: as forças da administração palestina são mal equipadas e seus homens mal remunerados. Por isso, mesmo para manter a precária trégua informal, é preciso negociar politicamente. Nesse sentido, as centenas de policiais que Abbas enviou nos últimos dias para patrulhar as fronteiras da Faixa de Gaza podem ter sido, essencialmente, uma manobra para israelense ver...
De acordo com The Economist, as negociações que Abbas realizou recentemente ao longo de dias com os grupos militantes não teve para eles como prioridade o estabelecimento de uma trégua com Israel, basicamente porque eles não acreditam que isso seja possível nas atuais circunstâncias. Os militantes colocaram no alto de suas prioridades a reforma das instituições palestinas e uma redistribuição do poder político. Nesse sentido, o Hamas é, desses grupos, com exceção do Fatah, ao qual pertence Abbas, o que tem mais cacife, graças à sua participação nas eleições dos conselhos palestinos, realizadas no último fim de semana. Segundo estimativas, o Hamas obteve 75 cadeiras de um total de 118 que estavam em disputa e em 10 cidades onde foram eleitos os conselhos, 7 ficaram sob controle do grupo. A publicação britânica chama a atenção também para o que pode vir a ser uma surpreendente mudança do Hamas, conhecido por não reconhecer o Estado israelense: um documento do grupo, divulgado recentemente, pela primeira vez reconheceu as fronteiras de Israel de 1967.
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