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A pesquisa realizada nos EUA que concluiu que correntes de reza coletiva a distância para invocar a melhora de doentes não interferiram no estado de saúde das pessoas a quem se destinavam as orações A pesquisa foi patrocinada pela Fundação John Templeton, uma organização que examina as relações entre ciência e religião |
O relatório será publicado na próxima edição do American Heart Journal. Um resumo foi divulgado na edição online da revista britânica Nature, de onde se extraíram as seguintes observações:
Muitas pessoas acreditam que a melhora de um doente é proporcional ao número de pessoas que se põem a rezar a seu favor, crença que introduziu o costume de se usar a Internet para formar correntes internacionais de oração. A eficácia desse método já foi testada antes, mas os resultados não foram claros, em parte pelo pequeno número de pessoas envolvidas.
O novo estudo, entretanto, foi o maior e mais rigoroso já realizado com o mesmo objetivo e os protocolos de procedimento foram idênticos aos usados na avaliação da eficácia de novas drogas. Foram recrutados em seis hospitais dos EUA pacientes que convalesciam de cirurgias de ponte coronariana. Eles foram classificados aleatoriamente em três grupos de cerca de 600 pessoas cada: a um grupo foi dito que poderia haver uma corrente de orações a seu favor, mas de fato não houve; a outro grupo foi dito que poderia haver a corrente e, de fato, houve; ao terceiro grupo foi dito que havia a corrente e, de fato, houve.
A cada noite do estudo os pesquisadores enviavam por fax a lista de pacientes a três grupos de cristãos encarregados de invocar pelo sucesso da cirurgia e rápida recuperação. Cada paciente foi alvo de orações diárias ao longo de duas semanas, com monitoramento médico nos 30 dias seguintes à cirurgia.
Os pesquisadores observaram que as orações não fizeram diferença na condição de saúde dos pacientes que não sabiam se estavam ou não a receber essa atenção. Mas as pessoas às quais foi dada a certeza de que havia gente rezando por elas apresentaram cerca de 14% mais sintomas de complicações, principalmente arritmias de risco. Talvez, dizem os pesquisadores, por causa da ansiedade mais intensa.
Alguns cientistas ouvidos pela Nature disseram que essa pesquisa foi uma perda de tempo e dinheiro (custou US$ 2,4 mihões) . Muita gente dá valor à oração e não há necessidade de os cientistas provarem empiricamente se isso funciona ou não, disse Richard Sloan, especialista em ciência do comportamento que estuda a relação entre orações e medicina para a Universidade Columbia, em Nova York. Isso também não significa nada sob o ponto de vista religioso, disse.
Jeffrey Dusek, da Escola de Medicina de Harvard, em Boston, defendeu a realização do estudo e disse que foi uma oportunidade de realmente se abordar esse assunto com o rigor da ciência. Agora que o estudo está feito abre-se a questão se vale ou não a pena dar seguimento à pesquisa.
O psiquiatra Jon Streltzer, especialista em medicina psicossomática da Universidade do Havaí, em Honolulu, disse que os cientistas precisam de mais dados mensuráveis sobre o impacto da fé na saúde, como, por exemplo, se a força de vontade dos pacientes ou a preocupação sincera de amigos e parentes próximos pode ajudar na cura. |
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